15.12.07

Pálidos desenhos em cola bastão

Ela fazia de sua vida um experiência de laboratório... uma sempre calculada receita. Ingredientes somados e subtraídos em momentos exatos. Uma exata alternância dos sabores dependendo de quem a provaria. Isso, para os homens que viessem a prová-la por algum tempo, deveria ser interessante. Homens gostam um tanto mais do que não entendem direito, do que lhes pareça oferecer algum mistério, ficando um tempo presos como os insetos em volta da luz. No caso dela o mistério acaba e, também nesse caso, não só seus amores, mas as pessoas em volta também terminam - vejam só - entediadas em meio ao mistério.
Sim, o importante é ter o que falar, de preferência indo contra a provável maioria. Cheia de opiniões. É preciso ter opiniões. "Acho isso 'disgusting', adoro aquilo... O que?! Telas?! Ah, não... não pinte telas, não vale a pena pintar telas..." Na verdade nunca achei as telas dela realmente interessantes, cola bastão contornando desenhos pseudo-fofos. Mas, apesar disso, ela tinha meios para se construir. Tinha uma bela voz, tocava bem, podia ler, ver, ouvir, pintar telas com cola bastão e também podia-se dizer bonita, apesar do jeito feio de andar. Munida assim desenhava-se para os outros. Quando pensava ter encontrado pessoas de seu interesse revelava-se doce e afável, oferecendo suas opiniões; do contrário as jogava para os pobres comuns, em mais um movimento calculado.
Com o tempo ela passou a acreditar que acreditava nas suas opiniões forçadas e a forjar outras tantas, e quase cria no que queria que os outros pensassem dela. E sempre existiram os que acreditaram também, os que se inebriassem... pelo menos por algum tempo, pelo menos por enquanto.
 
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